Como alguns dos meus amigos sabem, sou estagiário regente de umas das escolas da rede municipal de ensino do Recife. Apesar de formação histórica, leciono geografia (e ano passado lecionei Artes). Fazendo a chamada em uma das minhas turmas senti a ausência de uma aluna que era excepcional. Uma menina ótima, alegre, que sempre era dedicada aos estudos. Já vinha notando a sua ausência em aulas anteiores, mas desta vez fui impulsionado por minha curiosidade em perguntar a outros professores e à coordenadora pedagógica pela dita aluna.
Quando fiquei sabendo do real motivo da ausência da minha aluna, fiquei perplexo, sem dúvida minha semana acabou naquela quinta-feira. A aluna inteligente, simpática e extrovertida havia saído da escola por ter se mudado para o interior do Estado. O motivo? Ela foi violentada sexualmente pelo tio.
Por mais que possamos viver os nossos dias com notícias de abuso sexual, em programas como os de Cardinot (odeio esse programa), nunca nos passa pela cabeça que um caso semehante possa ocorrer próximo de nós. Quando fiquei sabendo do ocorrido, não tinha certeza se isso era o caso do acaso do destino, de muitos outros casos comuns em nossos dias. Ou até mesmo tenha sido resultado de um sistema maldito mas ao mesmo tempo complexo, no qual eu como engrenagem motora pude ter contribuído para tal fatalidade.
Nunca mais tive notícias dela, mas onde estiver, minhas preces subirão ao céu ao seu favor a fim de que a Providência se vingue do maldito que deixou uma marca profunda e dolorosa na vida de uma inocente de 14 anos. Não há prisão ou penas que possa compensar tal fatalidade. AInda que a ferida nela sare, ficará a cicatriz, e ela não poderá voltar para seu lugar de infância, em ter contato com seus amigos, com seus professores e a escola que foi responsável por sua formação. Isso simplesmente pela vergonha de ter sido vítima de um ultraje tão terrível como este pelo qual ela vem passando.
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